Um dos destaques da novela infanto-juvenil - Cúmplices de um Resgate - do SBT, Giovanni Venturini, é um grande ator e acaba de lançar seu livro no início de dezembro, com título: "A Não Ser". Ele é mais conhecido pelo trabalho de ator, e o papel que faz na novela foi especialmente criado para ele, pois não existia na versão original mexicana da trama. Isso aconteceu depois de Giovanni estrear na emissora em outra novela infantil, a "Chiquititas", quando foi selecionado para uma pequena aparição, mas agradou tanto, que ficou por cerca de 10 capítulos. Resultado: ganhou um papel importante na novela atual.
Ele também já esteve no teatro este ano, em uma elogiada montagem de "A Casa de Bonecas", clássico do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, onde a atriz Helena Ranaldi contracenou com três atores anões. Foi ainda focalizado em um documentário do "Histórias Extraordinárias do National Geographic", cujo último episódio refletiu sobre nanismo. "Cinema é meu próximo passo. Já tive algumas participações em curtas-metragens, mas ano que vem, quero fazer um longa e aprender mais essa linguagem da profissão de ator", conta Venturini, que também pensa em escrever para teatro e, quem sabe, até dirigir.
Até agora ele conseguiu escapar do estereótipo de anões artistas, em geral apresentados como personagens cômicos. "Infelizmente, não só a arte, mas a sociedade ainda é muito preconceituosa. Isso é um reflexo de gerações que se acostumaram a nos enxergar como o bobo da corte, o anão de circo, o palhacinho, o ser místico, e por ai vai. A mídia contribui e muito para isso, colocando-nos apenas em papéis estereotipados, cômicos, seres mitológicos e fantasiosos, ridicularizados e até agredidos fisicamente", analisa.
Venturini lembra de ter feito muita coisa que não gostava, porque era o oferecido, até que percebeu ser isso uma questão também do próprio grupo: "enquanto houver atores anões aceitando esse tipo de 'trabalho', o mercado vai continuar oferecendo isso. A partir do momento que você se impõe a ele e diz não, eu quero ser reconhecido pelo meu trabalho de ator, antes de ser reconhecido pela minha condição física, aí passam a te enxergar de outra forma", garante.
O Brasil ainda tem muito a aprender nesse quesito, mas já está mudando, um reflexo também do que ocorre nos Estados Unidos e alguns países da Europa, que já oferecem papéis importantes a atores anões. Ele cita como exemplo, Peter Dinklage, que tem uma participação expressiva na série "Game of Thrones": "Muito se deve à postura e à forma como ele quis consolidar sua carreira", considera Venturini. "Não condeno quem aceita qualquer tipo de papel, personagem e/ou situação para aparecer na mídia. Apenas não é a forma como eu quero aparecer. Por isso tenho essa postura", enfatiza Giovanni.
Na luta desde cedo
Venturini é um apaixonado pela carreira de ator desde as apresentações na escola. Filho único, o pai é formado em arte, com ênfase em cenografia, e na infância conviveu com adereços, figurinos e cenários que ele confeccionava. Por volta de 14 anos, começou a fazer visitas nos finais de semana em hospitais infantis e orfanatos, utilizando a linguagem do palhaço e da arte circense, como malabares e acrobacia. Aos 15, com mais dois amigos que também faziam parte desse projeto social, foi convidado a fazer uma apresentação de 15 minutos em uma feira de eventos para apresentar o produto do cliente. Ele conta que foi o primeiro cachê, portanto considera que aí começou a carreira. "É engraçado relembrar. Tinha uma temática de Egito, estávamos de palhaço, e tínhamos que apresentar o produto. Cada um de nós fazia mais de um personagem, uma confusão danada. Sei que até Deus eu interpretei nessa montagem!", relembra.
Ele até que tentou ter uma outra profissão. Aos 18 anos (hoje tem 24), começou a fazer faculdade de Gestão de Turismo, arrumou emprego fixo e levava o teatro como hobby nos finais de semana. Mas a paixão por atuar acabou por impedir a outra carreira. Resolveu largar tudo e viver seu sonho. Terminou a faculdade, largou o emprego e resolveu se dedicar exclusivamente à profissão de ator, sem nenhum arrependimento. "Tenho vivido e amado cada vez mais atuar", afirma.
Ao lado dessa paixão, caminha uma outra: escrever ! O livro "A não ser", lançado pelo Selo do Burro, reúne textos desde a adolescência até hoje. "Neles eu expresso muito do que vejo, do que vivo, alguns são fantasiosos, outros são como manifestos. Enfim, muita coisa é do que vi e vivi, outra parte é tudo invenção, mas não deixa de ser real", conta. Desde os 15 anos ele publica seus escritos no seu blog (anaosergigante.blogspot.com.br), que está um pouco parado atualmente por causa dos muito compromissos e da necessidade de manter textos inéditos para o livro, mas que ele pretende retomar.
De forma mais profissional, a poesia tomou uma proporção maior na vida dele a partir de 2013, quando começou a frequentar saraus e conheceu a galera do "Menor Slam do Mundo" (Daniel Minchoni, Sinhá, Ge Ladera e Anna Zêpa), uma batalha de poesias de 10 segundos. Só pode participar quem tem poesia autoral. Ele conta que conheceu muitos poetas de São Paulo e de outros estados e que foi convidado para integrar a equipe, fazendo pelo menos uma edição por mês do projeto, que tem uma página no facebook. Quem quiser conhecer, é só entrar para saber das próximas edições.
Venturini ainda faz parte do cast da Agência Kika de Castro como modelo fotográfico e ator, e já fez vários ensaios, desfiles inclusivos e participação em eventos. Foi a Agência, inclusive, que agendou o teste para "Chiquititas", abrindo as portas da TV para ele. "Essa parceria só está crescendo!", afirma. Ele também participa do projeto "Somos todos Gigantes", um grupo no face destinado a orientar as pessoas sobre o nanismo e combater todo e qualquer tipo de preconceito.
"O recado que quero deixar é que você pode ser o que quiser. Basta acreditar e sempre pensar positivo. Vá atrás do seu sonho e da sua felicidade. Não se contente com o que a sociedade lhe impõe, se não é isso que te faz feliz. Cabe a cada um de nós manter a cabeça erguida, acreditar e correr atrás do nosso sonho, para que ele não fique apenas no imaginário, e vire sim uma realidade para nós", conclui Giovanni.
A NÃO SER
Acima de tudo e abaixo de todos,
sou anão.
Até mesmo acima do meu banco
ou quieto no meu canto,
continuo pequeno cidadão.
E anão nada mais é que um ser gigante por dentro,
alguém que esqueceu de crescer por fora,
que inverteu o sentido e o significado
de vir e ir embora,
de crer e de ser,
de crescer.
Todos crescem, menos nós.
Cordas infindas em nós
somos eternamente imensos
em prosas, in-versus.
Não vejo diferença entre os anões e os demais.
A não ser os banais.
A não ser a indiferença de ser grande.
Anão: ser Gigante.
Portanto,(gig)antes de mais nada,
(gig)antes de qualquer coisa,
adiante e diante do mundo somos,
gigAntes de tudo, como todos.
* Trecho do livro “A não Ser”, de autoria de Giovanni Venturini